sábado, 7 de novembro de 2009

BLOG do ZINI CONFIRMA - o futuro de Autuori é em Doha

Paulo Autuori, 53 anos, faz o pedido:

— Um expresso, por favor.

É sexta-feira, 13h25min, e ele está acomodado numa das confortáveis mesas laterais do Press Café, um dos lugares da moda no Bairro Moinhos de Vento. Quase todos os olhares do lugar estão cravados nele. São pouco menos de 30 pessoas sob o ar refrigerado, um nada no universo de milhões de gremistas. O que os do café não sabem, o que os outros azuis nem imaginam, você vai saber agora.

Paulo Autuori deve deixar o Grêmio na segunda semana do mês que vem, depois da 38ª e última rodada do Brasileirão. Não é ele que diz. Sou eu que deduzo depois de quase três horas de uma ótima conversa. Não é o coração dele que manda. Não é desejo. É a pura razão.

O Al-Rayyan (clube comandado por Autuori na foto ao lado) fez uma proposta que coraria até o milionário Luiz Felipe Scolari. O filho mais jovem e querido do xeque do Catar, formado em Londres e apaixonado por futebol, comanda o Al-Rayyan e quer a volta de Autuori. Numa das monarquias absolutas do Golfo Pérsico, U$S 52,7 bilhões de PIB, querer é poder.

Autuori não é um só neste momento de decisão. Ele é apenas a cabeça mais visível de uma equipe de trabalho. Ele não diz, não afirma, não garante a saída. Elogia o núcleo que comanda o clube, destaca a transparência no trabalho no Olímpico, a receptividade “espetacular”, mas a sensação é de que ele vai embora. Ninguém resiste ao assédio dos petrodólares.

e fosse um técnico com um jeito brasileiro de ser, monoglota, ex-jogador, sem curso superior, sem maiores estudos, ficaria. Claro, só teria mercado nas nossas terras. Mas ele é um cidadão do mundo. Nos últimos 22 anos, 34 de carreira, permaneceu muito mais do que a metade deste tempo todo fora do Brasil. Ele é um nômade de tênis e abrigo de treinador. De Sorocaba a Tóquio, de Lima a Lisboa, de Porto Alegre a Doha, capital do Estado do Catar.

Autuori lembra um cidadão europeu, apesar do sotaque carioca. Fruto, talvez, de seus quase 11 anos de Portugal. É um sujeito calmo, tranquilo, educado e determinado. É um técnico civilizado, atuando numa arena comandada por treinadores que não se portam com a educação devida quando encontram um microfone a meio metro do rosto. Eles enxergam fantasmas na imprensa. Autuori nota apenas profissionais que fazem parte do espetáculo do futebol, assim como ele:

— Pontapé na porta do vestiário? Esquece. Prefiro o diálogo, a conversa, o entendimento. Não dou o chute. Prefiro usar os neurônios.

Eu sei, você sabe (Autuori idem): o problema é falta de qualidade do grupo. Autuori (36 jogos, 13 vitórias, 12 derrotas, 11 empates desde maio), ético, sem citar nomes mais uma vez, afirma que a parte motivacional precisa ser mais trabalhada entre os jogadores:

— Me recuso a ser refém de resultados. No Brasil, quem ganha é bom, quem não ganha não é nada. Quero ser lembrado pelo meu trabalho, que é meu cartão de visitas.

A conversa acabou. Passa das 15h. Autuori se levanta. Saúda os garçons. Tem um “tudo bom” para os desconhecidos das mesas, um “olá”, outro “tchau”. Antes de apertar minha mão, diz:

— Eu quero ser campeão da vida.

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