sábado, 17 de abril de 2010

História obrigatória para os gremistas : o predestinado De León



Você conhece a história de Hugo de León? Todo gremista deveria conhecer. É de cair o queixo.

Já seria digno da nossa parte tirar o chapéu para esse vivente só por causa de seu currículo: um dos atletas mais vitoriosos da América do Sul e talvez do mundo. Dá uma olhada no que o rapaz andou conquistando:

3 Mundiais de Clubes (2 com o Nacional e 1 com o Grêmio), 3 Libertadores da América (2 com o Nacional e 1 com o Grêmio), Recopa Sul-Americana (Nacional), Copa Inter-Americana (Nacional), 6 Campeonatos Uruguaios (todos pelo Nacional: 3 jogando e 3 como técnico), 2 Campeonatos Argentinos (River Plate) e 1 Campeonato Brasileiro (Grêmio). Além do Mundialito com a Seleção Uruguaia.

O Mundialito foi uma espécie de Mundial fora de época em 1980, reunindo as Seleções Campeãs do Mundo, para comemorar os 50 anos da primeira Copa (1930, no Uruguai). Foi realizado no próprio Uruguai, e a seleção da casa venceu, batendo o Brasil por 2x1 na Final (Seleção Brasileira de Telê Santana, que viria a dar show na Copa de 82, perdendo um dos títulos mais injustos da história das Copas, segundo opinião geral de críticos). De León, durante esse torneio, se não me engano, sequer havia sido contratado oficialmente pelo Grêmio ainda. Na comemoração, vestiu o manto, em pleno Uruguai.

Ok, tudo isso é muito bonito, mas até então não passa de um jogador de currículo invejável e que fez uma bela homenagem ao seu futuro clube. Muito legal, mas nada de anormal. Então vamos vasculhar a história do pequeno Huguinho, nascido em 27/02/1958 em Rivera. Vamos ver o que tem de diferente por trás desses números frios e inanimados de seu currículo vitorioso. Quando meu amigo gremistaço, Bruno Siegmann, me contou essa história, fiquei com vergonha de não ter conhecimento dela antes. Acho que todo gremista deveria saber.

Rivera é uma cidade uruguaia que faz fronteira com o Brasil. Fronteira com o Rio Grande do Sul, mais especificamente. Fronteira com Livramento, para ser neuroticamente específico. O menino Hugo nasceu lá. Nasceu numa cidade uruguaia, mas com grande influência e relação com o Brasil, grande fluxo de brasileiros, familiaridade com a língua portuguesa, etc. Assim, nosso protagonista, torcedor ferrenho do Nacional de Montevidéu, também escolheu um time no Brasil, já que recebia muitas influências e informações do país vizinho. Huguinho era um uruguaio da fronteira, torcedor de Nacional e de Grêmio.

Hugo de León virou jogador de futebol, e com 17 anos já era capitão do seu querido Nacional. Você, que está lendo isso aqui agora (principalmente os homens), já pensou em jogar no Grêmio? E ganhar um título pelo Grêmio? Seria um sonho, né? Quase todo amante do futebol já sonhou em defender as cores do seu time do coração, de preferência conquistando títulos. Pois De León realizou esse sonho: vestindo a camisa do seu Nacional, conquistou o “Uruguaião” de 77 e não parou mais de erguer canecos pelo tricolor de Montevidéu. Parando por aqui já teríamos um homem de sorte. Só que a história não para por aqui, ela só começa.

Em 1980, o torcedor de Nacional e Grêmio, Hugo de León, conquista a América defendendo as cores do Nacional. Contra o Sport Club Internacional. De arrepiar: ele matou o Inter numa Final de Libertadores. E depois desse feito, veio para o Grêmio.

Chegando aqui, de cara já faturou o Brasileiro de 81 vencendo o São Paulo na Final. Em 82 ficamos com o vice: Flamengo de Zico foi o Campeão. Em 1983, vocês sabem, né: De León, vestindo a camisa do time brasileiro do seu coração, fatura a América e o Mundo. Mas, essa é a parte que eu nunca tinha me dado conta: a Final foi simplesmente Grêmio x Peñarol, do Uruguai. O cara torcia por Nacional e Grêmio, venceu a Libertadores (e o Mundo) por ambos, e matando na Finalíssima o Inter e o Peñarol.

Se isso não é ser um predestinado, alguém me informa o nome disso, pois eu não sei. Podem existir jogadores com currículos mais brilhantes, com maior quantidade de títulos e o escambau. Mas maior vitória que essa, que esse senhor chamado Hugo tem na carreira, creio que não existe. Essa vitória é muito maior que os títulos em si, que o dinheiro ganho pelas conquistas, que os troféus. Ela, além de tudo, envolve rivalidade (duas das maiores do mundo), envolve sentimentos irracionais e intensos que movem o futebol.

Melhor que isso, só se a Final do Grêmio fosse contra o Inter e o Nacional tivesse ganho do Peñarol. Mas aí já seria roteiro de filme. E de ficção.

E pra fechar a conta e passar a régua, vocês hão de convir que a imagem de um barbudo erguendo a Taça da Libertadores com o semblante sério já seria deveras excelente. Mas como o barbudo em questão era o predestinado De León, pra eternizar sua imagem no Tricolor Gaúcho com chave de ouro, ele raspa sem querer um parafuso da Taça no rosto e abre um corte. Devido a isso, a imagem épica é de um barbudo erguendo a Taça da Libertadores, com uma feição séria e de poucos amigos, e com a testa sangrando. Melhor que isso só se... É, não tinha como ser melhor.


Parabéns e obrigado, Hugo de Léon.
TEXTO DE Lucas Silveira

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